terça-feira, 15 de abril de 2014

MAS QUE TELHA...

 
 
Vizinha, ainda bem que apareceu! É que eu hoje estou chateada sem saber porquê.Não lhe acontece? Verdade, verdadinha, não sei o que me deu... Pois é, vossemecês estão habituadas a ver-me sempre de taxa arreganhada e nem pensam que eu também tenho as minhas telhas. E olhe que às vezes são tantas que dão para cobrir uma casa... Ponho-me para aqui a pensar na morte de bezerra... e fico pior que estragada! Ah, mas agora já estou a ficar melhor! Um santo triste é um triste santo, nunca óviu dizer?
Hoje fui ao cabeleireiro, ali ao Caracol das Avenidas, como é hábito, para pintar o cabelo.Os filhos da mãe dos brancos já estavam a espreitar, raiosparta. Não é que tenha muito, mas assim fico melhor. Sabe quem eu vi lá?. A Lurdinhas, a filha da Doroteia. Lembra-se dela? Sim, essa a loirinha. A rapariga é muito bonitinha. Sai à mãe, felizmente, porque o pai é um estafermo, salvo seja! Não sei como aquela mulher se embeiçou naquilo. Lá bom homem é, mas mete medo ao susto! Mas olhe que mesmo assim o fulaninho é todo atiradiço! Ah, pois! E elas dão-lhe trela! Mas aquilo é só conversa. Eles inté se dão bem. A rapariga é que não teve sorte nenhuma com a velhaca da sogra que arranjou, coitada! Tem-lhe dado cabo da vida o estapôr da mulher! Sim, sim... Ela esteve-me a contar cá umas coisas quinté me benzi ca esquerda... Ah, vossemecê também sabe... Com aquelas ventas de buldogue e com falinhas mansas consegue levar sempre a água ao seu moinho. E o filho vai na conversa, parvalhão! A mocinha não é senhora de fazer seja o que fôr sem Só passar à censura daquele mostrenga. Depois é invejosa até dizer chega! Inté parece que fica verde quando vê alguma coisa que ela não tem! Porra, deita cada olho que até parece que faz bruxedo! Eu cá não vou com a cara dela, nunca fui. E digo-lhe, tomara nunca a encontrar! Ela e a minha fazem um grande par de jarras, chiça! Espero que a minha Sandra Vanessa tenha mais sorte! E depois sabe qual é o defeito dos homens? É emprenharem pelos ouvidos... E há mulheres que conseguem tudo o que querem! Filho e filho, mas porra, tudo tem os seus limites! Olhe eu cá não me meto na vida do meu e é o que eu faço melhor! Casamento - apartamento! A minha nora também o sabe levar.., Continua com as modernices... Agora tem daquelas unhas de loiça, ou o que é aquilo... Nem sei como é que ela faz a lida da casa. Secalhar com pinças! Eu disse PINÇAS, não comece!!! Já está a descarrilar! Ó mulher, vá mas é ao médico! Não é surda? Pois não, mas é pior do que isso. É treliada e distraída, qu'inda é pior! Pronto... não se amofine....  ahahahahah! Só vomecê é que me faz rir!

Da parte da tarde fui à Baixa.Não queira saber a quantidade de estrangeiros que por lá andava! Apanham-se com bom sol e boa comida e não querem outra coisa. Algumas, todas  descascadas, andam já vermelhas nem uns cachuchos! E quando chegarem os Santos Populares, aí é que vai ser uma festarola e bebedeiras de estilo. O povo é igual em todo o lado . Quer é música e fardamentos novos!

Mas falando de comida: não há nada como a nossa, pode crer. Quando fui a Espanha, se não fossema as sandochas e a fruta, tinha passado larica... Tou-lhe a dizer! No primeiro di
ainda a coisa escapou, com uns panaditos e uma sopa que se deixava comer, mas nos outros dias, ó caramba! Num dia ao jantar botaram-me no prato o raio duma sopa que eu inté fiquei a olhar para aquilo desconfiada. Era uma tomatada qualquer com um ovo em cima. Lá comi, com medo que o meu estrômago  reclamasse. Óspois veio um filete. Era de peixe, porque eu antes de o comer fiz-lhe a autópsia... Deixava-se comer... Atirei-me ao pão que nem lhe digo nada! Inté estava envergonhada, mas atão... Quem me tira a nossa comidinha, tira-me tudo!

Mas voltando à minha ida à Baixa: estava um calor e peras! Ó senhora, não é dessas peras Da rocha?... qual rocha?... Uhmmm....que pachooooooorraaaa que é preciso.... Sim, tá bem, passemos adiante... Onde é que vamos? Ó santinha, não vamos a lado nenhum! Deixe-se estar aí e escute-me, tal tá a porra, tal tá ela! Então  o que é que vossemecê quer se me faz perder a paciência?...  Caraças, já é terceira vez que eu começo com o assunto! Como ia dezendo, estava um calor e tanto e nos autocarros nem se respirava porque o ar acondicionado não funcionava, como sempre. Mas as gajas têm muito medo de abrir aquelas coisas que nem janelas chegam ser, com medo de desmanchar as melenas. Vai o Zé-povo ali a bufar com calor só para não ouvir as madamas. O quê?... De um comprimido precisa você... Bufar é asneira? Essa agora!!! Você não bufa, quer ver?! Há muitas formas de bufar e se não percebe, olhe, pa-ci-ên-cia. E isso a que se está a referir, também é preciso. Sabia que não se deve prender os ares? Faz muito mal... Tudo cá para fora! Olhe agora alembrei-me de uma coisa e inté me está a dar vontade de rir... É um bocado porco mas vou contar.

Um dia ia eu a subir a escada do Metro o gajo que ia à minha frente abriu a válvula e aí vai disto! É preciso ter lata! Fez barulho e... olhe nem lhe digo mais nada.... feeessss... Isso só comigo! O que ele precisava era que eu lhe espetassem o rabo com uma agulha! A propósito de agulha, lembrei-me de outra! Quando os meus filhos eram piquenos eu é que lhes fazia os casaquitos. Um dia levava as coisas num saco e, quando entrei para o autocarro empurraram-me e espetei o sim-senhor do que ia à minha frente, com uma das agulhas. Claro que pedi desculpa. Vai o gajo, vira-se para trás e, com a mão no rabo, diz-me assim: primeiro pica-me e depois  pede-me desculpa! Vai aí e respondi-lhe: atão? devia de pedir desculpa primeiro e picá-lo depois? Ele há com cada uma! Ahahahah!

Ai... ainda estou a pensar na Lurdinhas... Coitada da miúda... Mas sempre com um sorriso, benza-a Deus! Eles ali trabalham muito bem e por isso é que eu gosto de lá ir. Mas há uma que não me corta o cabelo porque eu não deixo. Uma vez fez-me para aqui uma avaria que inté parecia o Rod Stuart com os cabelos espetados! É verdade! Só com bastante laca é que conseguia segurá-lo, sabe lá! Nas minhas crinas só põe a mão, ou melhor, a tesoura, quem eu deixo, pois então!

Já se vai embora?!... Que horas são? Ai que são horas de botar o comer no lume! Isto as conversas são como as cerejas: uma vem atrás da outra. O quê?... Ó senhora, olhe... vá, vá lá fazer o jantar!

Inté amanhã... inté amanhã...

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