terça-feira, 18 de março de 2014

CONVERSA FIADA

 
 
Bom dia, vizinha!
Então, passou bem a noite? Eu cá mal caí na cama foi de fio a pavio!

Mas hoje não estou grande coisa. Não me apetece falar... Sinto-me esquisita... Tenho de tomar o medicamento para a tinção, não me posso esquecer!...

Logo hoje, que estou assim é que tenho cá a almoçar o meu filho com a mulher e o miúdo, e a minha Sandra traz cá o namorado também. Lá se vai o Domingo e o descanso... Gosto muito de vê-los por cá, isso gosto! Mas hoje logo estou assim, sem vontade de falar, que chatice! Pode ser que melhore...

Vou fazer umas sardinhitas assadas para o almoço, com salada de pimentos. O meu Adérito anda sempre a pedir-me sardinhas. Raio do homem, nunca se farta! Vive para comer, Chiça! Se tivesse de fazê-lo se calhar não tinha tantos apetites, mas como tem aqui a Maria... Ó mulher, o meu marido até é bom homem, mas às vezes falta-me a paciência...

A propósito de homens, já viu o seu vizinho do 2º andar? Até parece um pavão, todo emproado! Parvalhão! Só porque foi para o estrangeiro e teve a sorte de arranjar umas massas, até parece que tem o rei na barriga! A mulher é outra que tal! estão bem um para o outro! Quem viu aquilo pequenino... Agora está um cagão, até parece que não conhece os vizinhos! Tantas vezes lhe limpei o rabo quando era bébé e lhe aturei as birras... Agora fala-me de fugida...

Não é que eu goste de falar da vida alheia, a vizinha sabe disso, mas já viu os vestidos da senhorita? Cada dia um! É cá uma passagem de modelos que não tem fim! Estas gajas têm cá uma sorte. Ao que me conste não faz nada. Pelos vistos o dinheiro é muito .Olhe...Ó vizinha, vocemecê desculpe, eu cá não sou má língua nem sou invejosa, mas aquilo faz-me raiva, o que é que quer... Para uns, o dinheiro é macho, para outros é fêmea... Dizem que a gente já nasce com o destino marcado, sei lá se é assim! Só sei que me fartei de trabalhar mais o meu Adérito  não passamos da cepa torta... Também não me posso queixar, até porque a gente sempre fomos muito equilibrados. Como costumo dizer: sei ganhá-lo, sei gastá-lo e sei poupá-lo!

Ai, credo... estou cansada... Quem é que há-de ir fazer comer... assar sardinhas...E depois a loiçaria é que é o cabo dos trabalhos! A minha nora é muito boa rapariga, não desfazendo, mas lá estragar as unhas nem pensar... Toda a gente descansa menos eu, está visto... Tenho de fazer um bifinho para o miúdo, porque não gosta de sardinhas. Aí não sai ao avô... O moço pequeno é esperto, já sabe ler!... Tá mesmo giro, o sacana! O meu filho está farto de gastar dinheiro com a escola, sim porque agora os livros não passam de pais para filhos, nem de irmãos para irmãos, como era no nosso tempo. A prima ainda lhe quis emprestar os do filho, mas agora está tudo diferente. Modernices...

Ai, que cansada... que coisa...

A propósito de modernices: já viu a quantidade de cartões que o seu vizinho, (o Manel, de quem há bocado lhe falei), tem na carteira? Só visto... Agora faz-se tudo com cartão e o merdoso pavoneia-se todo com aquela merda! Qualquer dia inté fazem filhos com o cartão... Ó vizinha, o que é que quer?! Isto bole-me com o sistema nervoso... Mas também olhe, o que por aí há mais são pavões... Um dia cai-lhes a pena e ficam com o cu à mostra... Não é que eu queira mal ao rapaz... mas faz-me raiva... A serigaita da mulher então nem se fala... Deve de fazer uma vistaça com os cartões nas lojas... Se eu fosse a ela abanava-me com eles, está calor...

Ai... não sei que tenho... Não me posso esquecer de tomar o comprimido... Que horas são? Já?!!!
Porra, como o tempo passa! E ainda não pus sal nas sardinhas!!!

Inté logo, vizinha!


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